sob o sol
em Itacuruçá
ou em Ibicuí
duas moças
procuram tatuís
“eles não estão aqui.
vamos achá-los atrás das moitas.”
correm
como cavaleiras selvagens
como dionisíacas hipólitas
as suas tanguinhas inibidas
sentem o cheiro bom do mar
a maresia carente
esgueiram-se
em meio a tufos de mata virgem
entre salinas salientes
agora dão-se as mãos cálidas
“cadê os bichinhos?
vamos mais além.”
arrebenta-se o mar
nas pedras cristalinas
a vaga às vezes saboreia os pés
das duas moças
fogem da selvageria litorânea
continuam calmas e se tocam
“você tocou nos meus seios...
só quis ajeitar sua alça.”
as duas moças
que estão decepcionadas com o mundo
reconhecem suas purezas
instigam suas intimidades
os jatos de areia amaciam suas pernas
o sol as banha
sentadas
hipnotizadas
“o mar está estupendo...
você também.
vamos nadar?
nuas.
nuas?
eu tiro as suas roupas.
e eu?
as minhas.
você me alisou?
alisei.
você me roçou?
rocei.
você demorou muito
com essas mãos em meu biquíni.
demorei
e foi bom.
você me beijou.
foi muito bom.
e você?
o que é que tem?
ainda está vestida e...
e...
e o mar está estupendo.
me dispa.
não tem ninguém olhando?
você já está nua.
você me beijou de novo.
e você estremeceu.
posso te alisar?
alise.
posso te roçar?
roce.
minhas mãos demoram-se
em tirar o seu biquíni.
demore-se mais
que vai ser bom.
vou beijá-la.
vai ser muito bom.”
duas moças
reinventam o paraíso
a serpente sai correndo desesperada
Adão retira a última folha de parreira
de Eva
Caim desiste de matar
Abel
Deus descansa enfim
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