quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

DUAS MOÇAS

sob o sol

em Itacuruçá

ou em Ibicuí

duas moças

procuram tatuís

“eles não estão aqui.

vamos achá-los atrás das moitas.”

correm

como cavaleiras selvagens

como dionisíacas hipólitas

as suas tanguinhas inibidas

sentem o cheiro bom do mar

a maresia carente

esgueiram-se

em meio a tufos de mata virgem

entre salinas salientes

agora dão-se as mãos cálidas

“cadê os bichinhos?

vamos mais além.”

arrebenta-se o mar

nas pedras cristalinas

a vaga às vezes saboreia os pés

das duas moças

fogem da selvageria litorânea

continuam calmas e se tocam

“você tocou nos meus seios...

só quis ajeitar sua alça.”

as duas moças

que estão decepcionadas com o mundo

reconhecem suas purezas

instigam suas intimidades

os jatos de areia amaciam suas pernas

o sol as banha

sentadas

hipnotizadas

“o mar está estupendo...

você também.

vamos nadar?

nuas.

nuas?

eu tiro as suas roupas.

e eu?

as minhas.

você me alisou?

alisei.

você me roçou?

rocei.

você demorou muito

com essas mãos em meu biquíni.

demorei

e foi bom.

você me beijou.

foi muito bom.

e você?

o que é que tem?

ainda está vestida e...

e...

e o mar está estupendo.

me dispa.

não tem ninguém olhando?

você já está nua.

você me beijou de novo.

e você estremeceu.

posso te alisar?

alise.

posso te roçar?

roce.

minhas mãos demoram-se

em tirar o seu biquíni.

demore-se mais

que vai ser bom.

vou beijá-la.

vai ser muito bom.”

duas moças

reinventam o paraíso

a serpente sai correndo desesperada

Adão retira a última folha de parreira

de Eva

Caim desiste de matar

Abel

Deus descansa enfim

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