sexta-feira, 30 de março de 2012

CRIANÇAS NO PARQUINHO

o garotinho olhou bem fundo
a garotinha ruborizou
As mães não perceberam nada
a garotinha sabia o que era piu-piu
o garotinho sabia o que era barata
Os pais não viram nada
o garotinho perguntou algo
a garotinha indagou alguma coisa
Os pais
que não viam nada
falavam alto de futebol e de mulheres
As mães
que não percebiam nada
falavam baixinho de futricas e de homens
a garotinha mostrou sua barata
o garotinho mostrou seu piu-piu
...
Os dois casais
viram algo: a garotinha sorria dengosa
perceberam alguma coisa: o garotinho sorria satisfeito
e
em uníssono
berraram:
Indecentes!!!

domingo, 25 de março de 2012

blues trash

BLUES TRASH SAFADO PARA ANA

não, eu não vou comê-la
prefiro que deflore
minha depressão mesquinha
minha dor masculina e destrutiva
meu cheiro repulsivo
inda vou estrebuchar
sob meu bucho imundo
sob meu odor cadavérico
sem haver provado seu clitóris

devore meu crânio
esqueça os poetas malditos
esqueça seu cheiro de patchouli
apenas devore meu crânio
apenas finja que percebe
meu fingimento orgástico
descubra-me do véu nigérrimo
e sujo e xexelento e abominável
com que os magos maus cobriram-me

como se eu fosse um Mefisto safado
como se eu fosse um Nosferatu safado
e é o que sou

não cubra-me com as pétalas de seu hímen
indefloráveis
não chupe-me com a florada de seus lábios
âmbares
mas com cinzas emporcalhadas
cinzas tiradas de Cérbero
dos antropófagos pigmeus
ou dos jesuítas impiedosos
não dê-me a impressão de ser linda e casta
não, eu não vou deixar que coma-me
não deixarei que lamba minha cloaca
deixe a maçã da bruxa
para alguma Eva indolente
não queime meu corpo intato
com suas chagas
para os diabos a tábua dos mandamentos
esqueça meu pênis
hermafrodita e podre

SEGUNDO BLUES TRASH SAFADO PARA ANA

não, agora eu quero comê-la
quero sentir o cheiro safado de sua buceta
em meu rosto esquisito
sorrindo e babando-se
o supra-sumo de teu prazer babando-me
como se fôssemos morcegos esqueléticos
esbarrando-se entre estalactites
ouvindo o Danúbio Azul
ou a Cavalgada das Valquírias

ou talvez, ou tão sós, sem sóis, ou tão comedidamente
animarmo-nos
ao acariciarmos os nossos sexos
e podermos vê-los sem desleixo
sem nos perturbarmos com a presença de um ogre
ou de alguns mortos-vivos, ou de garanhões ou de princesas

um de nós poderia ter a primazia de presenciar
o primeiro incesto
e então prefaciaríamos o primeiro livro de Adão
envolveríamo-nos num cordão, num condão ou numa algema de sexo impuro

e aí sorriríamos muito
e você defecaria em minha cara
e eu urinaria em sua boca
e o suor gosmento pareceria sândalo

e o amor
que não seria nosso nem dos nossos
nem dos deuses ou dos menestréis
trituraria nossos ossos

e aí saborearíamos a careta do capeta
as asas dos querubins
o esperma enfurnado nas putas
o clorofórmio das múmias

e admiraríamos com prazer
nossas coxas, nossas axilas, nossos filhos, nossas coisas
o mundo não nos perdoaria
o Céu e o Inferno sim